Gravidez na adolescencia

15/05/2012 15:05

Gravidez na adolescencia

Autores: Jacy Gongora , Vanessa R. Goltz Neves

 

Existem alguns fatores que colaboram para o acontecimento da gravidez na adolescência, tais como: busca de autonomia, descuido, desejo de ser mãe, lar desestruturado e com pequeno nível de comunicação entre pais e filhos.  A gravidez nesse período representa um momento de crise no ciclo familiar. Para a adolescente, a gravidez pode significar uma reformulação de seus planos de vida e ter dificuldades em assumir o papel de mãe para o qual não estava preparada. Para os pais, sentimentos variados podem coexistir, como: culpa, surpresa, decepção, questionamentos dos “porquês”, raiva ou alegria. Dentro de uma visão sistêmica da família, buscaremos compreender quais os sentidos que a gravidez na adolescência pode assumir dentro da família. O impacto psicológico que a gravidez na adolescência pode gerar no sistema familiar, contribuindo assim para o auxilio em uma busca de soluções para essas situações, podendo agregar na compreensão dos conflitos gerados, auxiliando em reverter sofrimentos em benefícios.

 

Palavras-chaves: gravidez na adolescência, ciclo familiar.

 

Introdução

A principal questão que nos motivou a escrever esse artigo foi o grande índice de adolescentes grávidas, as quais podemos encontrar nas ruas, na clinica e em nossas famílias.

Segundo dados do ENSP- Escola Nacional de Saúde Publica, dados mais recentes do Ministério da Saúde mostram que a quantidade de adolescentes  grávidas de 10 a 19 anos caiu 22,4% de 2005 a 2009. Na primeira metade da década passada, a redução foi de 15,6%. De 2000 a 2009, a maior taxa de queda anual ocorreu no ano de 2009, quando foram realizados 444.056 partos em todo o País - 8,9% a menos que em 2008. Em 2005, foram registrados 572.541. Ao longo da década, a redução total foi de 34,6%.

Nota-se uma considerável queda nas taxas de gravidez na adolescência nos últimos anos, no entanto o numero de gestantes continua alto. E é esse número que permanece que nos chama a atenção. O que levaria um casal de adolescentes não se prevenirem com métodos contraceptivos?

Atualmente o numero de informações sobre as questões sexuais tem aumentado com programas nas escolas, propagandas na mídia, internet entre outros veículos de comunicação, mesmo assim a gravidez na adolescência ainda acontece em grande número.

O Termo adolescência corresponde à passagem entre a infância e a idade adulta. Para Yazlle (2006, p.1):

A adolescência corresponde ao período da vida entre os 10 e 19 anos, no qual ocorrem profundas mudanças, caracterizadas principalmente por crescimento rápido, surgimento das características sexuais secundárias, conscientização da sexualidade, estruturação da personalidade, adaptação ambiental e integração social.

 

Faremos uma explanação do tema buscando conhecer mais dessa fase dentro do ciclo familiar, da construção da sexualidade para o adolescente, bem como quando a gravidez na adolescência pode ser vista como um sintoma da família.

Para elaboração do presente trabalho, foi realizado um levantamento bibliográfico sobre o tema. Dentro da abordagem sistêmica observamos que ainda são poucos os trabalhos elaborados sobre o presente assunto, sendo assim, optamos por uma visão linear da questão.

Temos como objetivo levantar dados que possam contribuir para o entendimento do tema dentro da visão sistêmica familiar. Buscaremos compreender o que pode colaborar para que ocorra uma gestação na adolescência, e abordar sobre a importância do apoio da família na gravidez do adolescente e uma nova estruturação familiar.

 

 

Desenvolvimento

 

O pensamento básico sistêmico está embasado no fato de que o todo é considerado mais que a soma de suas partes, e cada parte só pode ser entendida no contexto de um todo, ou seja, se houver alguma mudança em alguma parte, vai afetar e alterar todas as outras.  Seguindo esse pensamento sistêmico Carter e Mcgoldrick (1995), opinam que a família como sistema  é mais que a soma de suas partes e o ciclo de  vida individual acontece dentro do ciclo de vida familiar, que é o contexto primário do desenvolvimento humano.

Sendo a família o contexto base do desenvolvimento humano, não podemos ignorar que através dela possa se propagar tanto a saúde quanto a doença.  A gravidez na adolescência na maioria dos casos representa um momento de crise no ciclo de vida familiar. Podemos então pensar a gravidez na adolescência, a qual acontece de forma inesperada e sem planejamento como um sintoma da família em resposta as dificuldades encontradas pela mesma.

    Para Haley (199, p42) “os sintomas aparecem quando há um deslocamento, ou uma interrupção, no desabrochar do ciclo de vida de uma família ou outros grupos naturais. O sintoma é um sinal de que a família tem dificuldades em ultrapassar um estágio em seu ciclo de vida.”

     Segundo Minuchin e Colapinto (1999, p.22) uma família é um tipo especial de sistema, com estrutura, padrões e propriedades que organizam as fases de estabilidade e de mudanças. O sistema familiar passa por ciclos que mudam no decorrer do tempo e das novas fases dentro da família. O ciclo vital da família é um seqüência previsível das transformações na organização familiar, ou seja, é a evolução histórica da família, a qual implica as mudanças que ocorrem e tem a ver com o desenvolvimento dos indivíduos na família.

Cada ciclo tem seu grau de abertura variável conforme a sua organização, pois a família possui um dinamismo próprio e uma capacidade auto-organizativa que lhe conferem individualidade e autonomia.  

A entrada dos filhos na adolescência marca uma fase no ciclo vital da família, nesta fase grandes mudanças acontecem e nem sempre a família consegue passar com tranqüilidade  gerando com isso uma situação de estresse, o qual , pode levar a família a ter dificuldades.  Sobre isso, Carter e Mcgoldrick (1995) relatam que  “o estresse familiar é geralmente maior nos pontos de transição de um estágio para o outro no processo desenvolvimental familiar”, quando falamos de famílias com adolescentes esse estresse é praticamente inevitável.

Para os autores citados acima a família desempenha dois tipos de funções durante o seu ciclo vital: função interna (desenvolvimento e proteção dos seus membros) e função externa (socialização, adequação e transmissão de determinada cultura). Ao mesmo tempo, tem também que resolver com sucesso duas tarefas básicas: a criação de um sentimento de pertença ao grupo e a individualização / autonomização dos seus membros.

Haley ( 1991, p 47) afirma que:

Há um período em que os jovens estão todos aprendendo a cortejar e participando dessa atividade, e quanto mais uma criança retardar esse processo, mais periférica ela se tornará a rede social. Um jovem que até os vinte anos não tiver tido nenhum encontro se sentirá marginalizado ao lidar com outros jovens de sua idade, que estiveram experimentando procedimento de namoro durante anos.

 

É inerente ao adolescente a necessidade de adaptação ao meio social e esse meio passa a exigir dele comportamentos referentes à sua idade entre eles a paquera e o namoro. A família, por muitas vezes não saber administrar esse momento pode sentir-se “entre a cruz e o punhal”, tendo que exercer a função interna de desenvolvimento e proteção e ao mesmo tempo a função externa de socialização, adequação e transmissão de valores e cultura. O equilíbrio entre as duas funções pode não ser atingido, acarretando para o adolescente uma super-proteção impedindo-o de desenvolver suas relações externas de socialização ou no outro extremo empurrando-o prematuramente para a vida adulta e independente.

Cada estágio do ciclo familiar necessita de um processo emocional de transição que levará a mudanças de segunda ordem no sistema familiar. Essas mudanças são fundamentais para que ocorra o desenvolvimento posterior adequado. Caso não ocorra um desenvolvimento adequado poderá surgir um sintoma ou disfunção familiar, concordando com a citação acima de Halley, na visão de Carter e Mcgoldrick (1995), geralmente o sintoma ou disfunção aparecem quando há uma interrupção ou deslocamento no ciclo familiar vivido pela família.

Podemos entender que entre tantos fatores que levam a uma gravidez na adolescência, a passagem inadequada do ciclo familiar com adolescentes pode contribuir com o “descuido” no uso de métodos contraceptivos pelos adolescentes e a posterior gestação.

Haley (1991, p 47) entende que “os jovens se casam para fugir de casa, para salvar um ao outro, porque simplesmente se apaixonam, porque desejam ter filhos e por muitas outras razões.” Atualmente o casamento nem sempre acontece, mas a gestação pode representar a fuga de algo, como um grito por socorro. A distancia nas relações entre o adolescente e sua família pode gerar dificuldades, as quais, podem ser resolvidas através de uma compreensão maior desse momento no ciclo familiar.

Para a família a adolescência dos filhos é muitas vezes entendida como uma fase complicada, e taxada muitas vezes com termos depreciativos como a famosa “aborrescência”.

Na adolescência, há uma junção da imaturidade infantil e a maturidade da fase adulta, fazendo com que o sujeito passe por crise de identidade, caracterizado por transformações físicas e psicossociais. Nessa fase, o jovem assume mudanças na imagem corporal, de valores e de estilo de vida, afastando-se dos padrões estabelecidos por seus pais e criando sua própria identidade. A fase da adolescência em si não é tão fácil.

Para Kalina (1992) a adolescência é um salto em direção a si mesmo, como ser individual, um desprendimento. O adolescente quer encontrar sua posição no espaço e no tempo, situar-se como pessoa. Tanto no adolescente como nos pais, introduz uma nova época, assinalando uma nova posição dos filhos e novos papéis dos pais em relação a eles.

Kalina (1999) aponta que na adolescência, ocorre uma profunda desestruturação da personalidade e que com o passar dos anos vai acontecendo um processo de reestruturação. Baseado nos antecedentes histórico-genéticos e do convívio familiar e social, e também pela progressiva aquisição da personalidade do adolescente, é possível entender que esta reestruturação tem em seu eixo o processo de elaboração dos lutos, a cada etapa deixada sucessivamente. A questão familiar e social funciona como co-determinante no que resulta enquanto crise, especialmente, à conquista de uma nova identidade.

No meio de tantas mudanças para o adolescente e sua família, surge a necessidade do adolescente em se relacionar com o sexo oposto de uma forma diferente da vivida até o momento, nesse ponto as questões referentes à vida sexual tornan-se evidentes. Segundo Haley (1991):

 

“ Os homens tem em comum com outras criaturas o processo do desenvolvimento do namoro, o acasalamento, a construção do ninho, a criação dos filhos e seu desalojamento rumo a própria vida, mas, devido à organização social mais complexa dos seres humanos, os problemas que surgem durante o ciclo de vida da família são únicos entre as espécies...Um diferencial crucial entre os homens e todos os outros animais é o fato de o homem ser o único animal com parentes. A parentela esta envolvida em todos os estágios da vida familiar humana, quando em outras espécies há descontinuidade entre as gerações. ” ( p.45)

 

O envolvimento entre as gerações citado acima é algo maravilhoso e ao mesmo tempo delicado. O mesmo envolvimento que transmite uma cultura e informações valiosas para o sujeito pode se tornar disfuncional e não permitir o desenvolvimento adequado do adolescente e do ciclo familiar.

Nessa nova época no ciclo da família com filhos adolescente, deve haver maior flexibilidade das fronteiras para incluir a independência dos filhos. As famílias que passam por conflitos neste ciclo, quando bem orientados, podem desenvolver maior flexibilidade frente às mudanças melhorando a qualidade da relação com os filhos, criando oportunidade para uma boa comunicação e intimidade.

Nessa fase os jovens estão em estágios convencionais avançados, o de honra pessoal e o decorrente dos deveres relacionados com cumprir as leis da sociedade, esses estágios causam conflitos no sistema familiar.

Esse também é um momento em que os adolescentes devem começar a estabelecer seus próprios relacionamentos independentes. Eles passam a ter interesses fora da família. Em alguns casos o amigo ou namorado(a) é introduzindo(a) para dentro da vida familiar, com a família ampliada são necessários ajustes especiais para permitir e estimular esses novos padrões.

Em relação à sexualidade,  Werebe (1998) afirma que:

...as competências e as necessidades do domínio da vida afetiva e sexual vão mudando até a adolescência. No decurso do desenvolvimento, da-se a aprendizagem da reciprocidade, o estabelecimento de uma relação íntima com outra pessoa, fora da família. A intimidade é a necessidade de envolvimento profundo com alguém e influi sobre os padrões e hábitos adolescentes, relacionado com a amizade e relacionamentos românticos. (pg. 77)

 

A família tendo que se reorganizar para se adaptar ao novo sistema que esta se formando podem surgir as dificuldades. Para que essa adaptação se de da melhor forma as novas regras deverão ser flexíveis para atender esse momento de tensão no ciclo da família.

Minuchin e Colapinto (1999, p.27) afirmam que  “todas as famílias passam por períodos de transição. Os membros crescem, e os acontecimentos intervêm para modificar a realidade da família”. A família como outros sistemas, também enfrenta período de desorganização, devendo passar por um processo de tentativas e erros, buscando um equilíbrio entre padrões confortáveis que lhes serviram no passado e as exigências realistas de sua nova situação. Esse é um período doloroso, é marcado geralmente por insegurança e tensão. Algumas transições são desencadeadas pelo ciclo normal do desenvolvimento e em algumas transições não tem nada haver com o desenvolvimento, elas refletem as vicissitudes da vida moderna e os eventos inesperados que podem acontecer em qualquer família; divórcio, recasamento, doença inesperada, desemprego repentino, inundações ou terremotos.  Seja qual for o estímulo, é importante compreender que as dificuldades de comportamento durante os períodos de transição não são necessariamente patológicas ou permanentes. Elas com freqüência representam as tentativas da família de explorar e se adaptar.

Para Knobel (1991):

Somente quando o mundo adulto compreende adequadamente o adolescente, facilitará também sua tarefa evolutiva, podendo desempenhar-se correta e satisfatoriamente, gozar de sua identidade, de todas as suas situações, mesmo das que aparentemente, tem raízes patológicas, para elaborar uma personalidade sadia e feliz. (p. 59)

 

Segundo Carter e Mcgoldrick (1995, p.20) “as famílias com adolescentes devem estabelecer fronteiras”. Importa observar que as fronteiras devem ser permeáveis não podendo impor uma autoridade completa. Nesta fase os adolescentes abrem um leque de valores, trazendo novos amigos e novas idéias para o contexto familiar. As famílias que estão muitas fechadas a novos valores podem ser ameaçadas por eles, com freqüência estão fixadas numa visão anterior a este momento do ciclo familiar. Podem tentar controlar todos os aspectos de suas vidas num momento em que é impossível conseguir fazer isso. Ou o adolescente se retrai em relação aos desenvolvimentos apropriados para esse estágio, ou os pais ficam cada vez mais frustrados com aquilo que percebem com sua própria impotência.

Para essa fase, o velho adágio dos Alcoólatras Anônimos é particularmente adequado aos pais: “Que eu tenha a capacidade de aceitar as coisas que não posso mudar, a força para mudar as coisas que posso mudar, e a sabedoria para perceber a diferença”.

Em relação às adolescentes meninas, Carter e Mcgoldrick ( 1995, p.71) relata que “em muitas famílias, a adolescência pode ser um período particularmente estressante para as filhas, em virtude das regras rígidas que limitam a independência feminina na maioria das culturas”. Podendo intensificar brigas entre os pais ou avós. Na medida em que as meninas se rebelam contra os papéis tradicionais aumenta a facilidade de uma comunicação ser interrompida e elas começarem a buscar novos recursos de sobrevivência e que muitas vezes não são os corretos, podendo ocorrer uma precipitação em seu ciclo natural de amadurecimento para a vida adulta.

            Segundo Erikson, (apud, Carter e Mcgoldrick, 1995, p.47) o desenvolvimento das meninas é diferente da dos meninos “elas mantêm em suspenso sua identidade conforme se preparam para atrair os homens por cujos nomes passarão a ser conhecidas, e por cujo status serão definidas.”

        As garotas podem se confundir nesse pensamento, achando que os homens poderão salvá-las e preencher o vazio  acarretado por alguma ausência, provocando ainda uma maior solidão. Nessa busca de preencher  o “espaço interno”, poderão no decorrer de seu desenvolvimento, atrair para si  situações que podem levá-las a confundirem identidade com intimidade, definindo–se através dos relacionamentos com os outros.

            Nossa hipótese é de que, muitas adolescentes engravidam prematuramente em momentos de conflitos familiares como os descritos acima. No momento em que as adolescentes se sentem sós, a busca por um parceiro que preencha esse vazio surgirá, aumentando as chances de uma gravidez nessa fase. Podemos então questionar, será que as dificuldades na família surgem com a gravidez ou já existiam dentro desse sistema?      

       É importante ressaltar que será sadio as adolescentes definirem sua identidade por si, sendo estimuladas a procurarem suas próprias opiniões, valores, aspirações e seus interesses.  Uma boa estrutura familiar é fundamental, tendo claramente definido os papeis que cada um desempenhe.

 

Como os pais podem ajudar a prevenir a gravidez na adolescência?

 

        Segundo Minuchin e Colapinto, (1999. p.25), “o conceito de fronteiras é importante em relação aos subsistemas, como também em relação à família como um todo. As fronteiras são invisíveis, mas, assim como o vento, sabemos que elas existem devido à maneira como as coisas caminham”., no ciclo familiar ha necessidade de flexibilidade das fronteiras dentro da família. Isso pode ocorrer se desde cedo os pais conversarem com a criança, respondendo o que ela pergunta e respeitando a curiosidade sem violência e sem críticas, estarão criando um canal aberto de comunicação. Isso vai facilitar as conversas dos pais com os filhos adolescentes, fazendo com que os jovens se sintam mais seguros, amados e respeitados. Quanto mais o adolescente gostar de si mesmo e se cuidar, menor é o risco de uma gravidez nessa fase.

Por meio do diálogo e do relacionamento amigo com seus filhos, os pais vão orientando os adolescentes sobre a importância de iniciar o relacionamento sexual quando estiverem mais preparados para assumir uma relação madura e responsável. Quando o adolescente se sente feliz e confiante na família, pode adiar o início da atividade sexual. Para que isso ocorra, é preciso que seus pais criem, desde cedo, um ambiente de respeito e amor. Assim, o adolescente vai desenvolvendo uma boa imagem de si mesmo e do mundo. Isso vai ajudá-lo a cuidar melhor de si e a se preservar, para que possa concretizar seus projetos de vida com respeito e responsabilidade. Um filho não pode ser fruto de uma atitude impensada. Precisa ser planejado, ser fruto de um projeto de vida. Quando os pais têm um bom relacionamento e engravidam porque desejaram, o bebê tem mais chances de se desenvolver saudável e feliz. Para Minuchin e Colapinto, (1999. p.26) “O indivíduo é a menor parte do sistema familiar. Na teoria da abordagem sistêmica entende-se que cada pessoa contribui para a formação de padrões familiares, mas também é evidente que a personalidade e o comportamento são moldados pelo que a família espera e permite”.

 

 

Conclusão

           Percebemos que as famílias resistem a mudanças, o meio tende a adoecer por falta de flexibilidade. Sendo de grande importância a ajuda de um treinador familiar.        

Segundo Nichols (2007), a ênfase na homeostase familiar superestimou as propriedades conservadoras das famílias e subestimou sua flexibilidade. O reconhecimento de que as famílias resistem à mudança foi imensamente produtivo para se compreender o que mantém as pessoas empacadas. O conceito de Jacksom (apud Nichols, 2007, p 45), define as famílias como unidades que resistem à mudanças – tornar-se-ia a metáfora definidora dos primeiros anos da terapia familiar. Sua suposição básica era que todas as pessoas em relacionamentos contínuos desenvolvem padrões fixos de interação, o que ele chamou de “redundância comportamental”.  Ele descreve sobre padrões problemáticos de comunicação de uma  maneira que nos é útil  na ajuda com famílias resistentes, necessitando reformular uma nova linguagem de interação no contexto da família.

A ajuda terapêutica, nessas situações, colabora em auxiliar as famílias a modificarem adequadamente sua visão de si mesmas, para possibilitarem a crescente independência da nova geração, embora mantendo fronteiras e estruturas adequadas para favorecer o desenvolvimento familiar continuado. Montando fronteiras flexíveis permitindo que o adolescente maneje as coisas sozinhos, permitindo que eles se afastem e experimentem um grau crescente sua independência. Para que essa independência saudável ocorra serão necessários ajustes especiais entre os pais e filhos.

Para Minuchin (1995) “lealdade, responsabilidade, tolerância, divertimento e bondade – essas são as características positivas da vida familiar, pelas quais expandimos e enriquecemos uns aos outros. Os laços familiares não limitam o self – eles o ampliam.” (p.266).

Para o autor acima citado, existe uma canção que precisa ser cantada em nossa cultura: a canção dos ritmos dos relacionamentos, das pessoas enriquecendo-se e expandindo-se mutuamente. Esse processo colaborativo precisa ser destacado em nossa cultura, porque o que em geral percebemos são as diferenças e discordâncias. Muitas vezes nós só nos detemos nas desigualdades, criando dificuldades, e não prestamos atenção aos padrões que tornam possível a vida familiar, as harmonias que muitas vezes não são valorizadas.

Temos de perceber as conexões e possibilidades que cada família têm e ajudar a encontrar alternativas. Encorajando a tolerância das diferenças e a aceitação das limitações, focando a complementaridade e a construção da parceria.

As famílias apresentam inúmeras variedades de recursos a quais elas podem mudar, podendo ser usado de formas diferentes. Isso significa tolerar incertezas e diferenças. Isso também significa esperança de novas maneiras de viver junto. Essa é a canção que nossas famílias precisam ouvir: a canção do eu-e-você, a canção da pessoa no contexto responsável perante o outro e pelos outros.

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ABERASTURY, Arminda. KNOBEL, Mauricio.. Porto Alegre: Adolescência Normal. Porto Alegre: Artmed 1991, 9. E ed.

 

 

CARTER, Betty. As mudanças no ciclo de vida familiar: uma estrutura para a terapia familiar. / Betty Carter e Monica McGoldrick; trad. Maria Adriana Veríssimo Verone. – 2. ed. – Porto Alegre: Artmed, 1995.

 

 

HALEY, Jay. Terapia não convencional: as técnicas psiquiátricas de Milton H. Erickson. São Paulo. Summus, 1991.

 

 

NICHOLS, Michael P. Terapia familiar: conceitos e métodos / Michael P. Nichols Richard C. Schwartz; tradução Maria Adriana Veríssimo Veronese – 7. ed. – Porto Alegre: Artmed, 2007.

 

 

KALINA, Eduardo. Psicoterapia de adolescentes: teoria, prática e casos clínicos. 3ª edição. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

 

 

KALINA, Eduardo; GRYNBERG, Halina. Aos pais adolescentes. 3ª Ed. 1992

 

MINUCHIN, Salvador e NICHOLS, Michael P. A cura da família - histórias esperança e renovação contadas pela terapia familiar. Porto Alegre: Artes M´dicas, 1995.

 

 

MINUCHIN P, Colapinto J, MINUCHIN S. Trabalhando com famílias pobres. Porto Alegre: Artes Médicas Sul. 1999.

 

 

WEREBE, Maria José Garcia. Sexualidade, Política e Educação: Campinas, SP: Autores associados, 1998.

 

 

 YAZLLE, E. H. D. M. Artigo científico: Gravidez na adolescência. Scielo. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010072032006000800001&script=sci_arttext Acesso em 10 nov.2011.

 

 

Brasil acelera redução de gravidez na adolescência. ENSP – Escola Nacional de saúde publica. Disponível em: https://www.ensp.fiocruz.br/portalensp/informe/materia/index.php?matid=20517&origem=4 Acesso em 03 de Nov.2011.